~
Que o Natal para os cristãos simboliza o nascimento de Cristo nós sabemos. Mas que o Natal é sobre estar à mesa poucos sabem. E não estou dizendo apenas sobre o comer as delícias de Natal. Mas sobre vivenciar um momento de amor e comunhão.
Se você já leu Os Miseráveis, talvez tenha passado batido o momento em que o bispo convida Jean para se sentar com ele à mesa. Não estou falando sobre o Bispo hospedar Jean, mas necessariamente sobre a importância que a mesa tem neste momento. Para mim essa é uma das horas mais simbólicas do livro. Pois Jean que havia sido preso por roubar pão para a sua sobrinha tem a sua humanidade devolvida ao sentar à mesa.
E se você é cristão pode notar o quanto a comida cumpre um papel importante durante toda a Bíblia. O pecado original se deu pelo comer. E se formos mais adiante, o povo de Israel só saiu do Egito após compartilhar com a sua família um momento à mesa em que comeram um cordeiro sem mácula que já representava a vinda do Salvador. E durante outros momentos a simbologia do comer juntos à mesa se faz presente na Palavra.
Ok que até agora falei muito mais sobre o comer, mas estar à mesa não é apenas se alimentar, e sim estar junto, celebrando a vida, a alegria e o amor. É esperar aquilo que foi preparado com tanto carinho por alguém da família que dedicou uma parte importante do dia para todos se alegrarem juntos. É decidir estar em um momento especial da sua vida com as pessoas que você considera importante. Afinal, estar à mesa junto com alguém é dizer: eu quero passar mais tempo com você. O estar à mesa no Natal é ser grato por podermos celebrar com fartura a vida de alguém que se despiu de sua glória por nós. É celebrar que o Amor esteve em nós.
Por isso, nesse Natal não abra mão de estar à mesa. Convide pessoas que você ama, ou que você quer estreitar os laços para participar desse momento contigo. Pode até mesmo não ser no Natal, mas revivendo a aura de amor que nos cerca nesse dia. Lembre-se que antes de ir ao monte para ser preso, o Amor sentou-se à mesa.
Feliz Natal!
Já tem algum tempo que venho refletindo sobre a dificuldade que as pessoas têm de assumir os seus sentimentos. Eu mesma a tenho. E muitas vezes esses sentimentos que não assumimos é o amor. Temos dificuldade em demonstrar que amamos. Ou melhor, não queremos demonstrar o amor.
No meu caso, eu não gosto de demonstrar que amo (no caso não estou falando do amor familiar) por não querer mostrar uma fragilidade. Mas muitas pessoas também não assumem o amor pelos mesmos motivos e isso resultado em jogos com o sentimento do outro.
Demoramos para responder mensagens, fingimos que o outro não existe, demonstramos indiferença, e muitas vezes recorremos até à falsa raiva. E os que como os antigos continuam cantando o amor, são os fracos.
E com isso, fomos apenas complicando o amor e até tirando do homem a possibilidade de amar. Afinal, a fraqueza está sempre intimamente ligada ao feminino. Você já reparou que as histórias de amor são sempre uma mulher que ama e não é correspondida? Ou uma mulher que está à espera ou em busca do amado? E tem até mesmo aquela que precisa ser resgatada pelo o ser amado.
Já dizia Barthes que o discurso do amor é algo que se fala sozinho, afinal, quem tem coragem de assumir que ama?
A minha dica de hoje é: vamos andar na contramão. Amar ao contrário do que muitos pensam exige força e coragem. Coragem para nos permitir entrar em contato com o outro e força para nos deixar sentir as dores do amor. Descompliquemos o amor!
Somente fui ouvir pela primeira vez a música Chegadas e Despedidas quando tocou em Senhora do Destino, mas desde aquela época essa música me intrigou. Com o passar dos anos fui ouvindo ela com mais frequência e atribuindo maiores significados, e mesmo talvez que não seja esse o real sentido, mesmo ela podendo ter implicada em si alguma metáfora para a vida e a morte, as estações de passagem passaram a ter um outro conceito para mim.
Chamo aqui estações de passagem tudo aquilo que nos faz viajar, seja uma viagem curta para o nosso trabalho, ou uma viagem longa para um passeio. O que mais me faz pensar quando estou nessas estações é o que leva as pessoas aos destinos que elas estão indo. Você já parou para pensar quanta história está acontecendo no momento em que aquelas pessoas estão ali?
Algumas estão indo para algum reencontro feliz com alguém que há muito tempo não vê. Certamente alguns abraços irão ficar nessas estações. Abraços de reencontro, abraços de despedidas e abraços de boas vindas. Muitos adeus, muitos sorrisos, muitas lágrimas foram deixados ali. Alguns estão indo, alguns estão vindo. Alguns estão indo celebrar nascimentos, outros estão indo prantear os seus mortos.
Alguns estão vindo iniciar uma vida em uma nova cidade, e outros estão se despedindo da vida que deixou para trás para recomeçar em um novo lugar. Mas há sempre uma história a se carregar. E até mesmo no meio de transporte que você vai e volta, diversas histórias alegres e tristes estão sendo contadas ali de forma silenciosa. Há sempre uma história.
No entanto, todos têm duas coisas em comum: uma história e a estação. Não importa o motivo, todos estão indo ao encontro de algo, seja o pranto, seja a alegria. Isso faz com que as estações de passagem sejam um bom lugar de reflexão.