Pega a pipoca #2: o estagiário e viver duas vezes



A velhice, ao que tudo indica, sempre foi algo que me intrigou, apesar de que na adolescência parece que estamos tão distantes dela que a deixamos de lado. Minha mãe me conta que quando eu era criança ela me dizia que estava ficando velha e eu começava a chorar. E claro, que não consigo me recordar qual era o meu medo da velhice. Mas com o tempo voltei a pensar no assunto… 

Durante este mês vi dois filmes que tratam a velhice, primeiro assisti o Estagiário e depois Viver duas vezes. E claro, que algumas reflexões para alguém que sempre pensou sobre o assunto se fizeram presentes, principalmente diante de uma pandemia que nos fala de colocar em segurança os nossos idosos. 

Achei curioso como os dois filmes trabalham o assunto. Um mostra um determinado aspecto, mas que parece ser solucionado ao longo do filme, e o outro vai falar de algo que não tem solução, mostra um ponto mais triste, sem qualquer glamour. 

Em o Estagiário conhecemos Ben, um senhor aposentado e viúvo. Ben está com 70 anos e chegou ao momento de descobrir que estar aposentado não é tão interessante assim. Nas primeiras cenas do filme o vemos solitário, tentando encontrar uma rotina que faça sentido à sua vida, e ao se sentar em mesas de café nenhum jovem tem interesse em conversar com ele. A sua agenda parece ser preenchida pelos velórios dos amigos que morreram. 

A vida de Ben passa por uma transformação quando ele participa de um processo seletivo que pretende contratar pessoas idosas. Ele é aprovado no processo e começa a trabalhar. A sua gestora não tem uma relação legal com os pais que são idosos e já vê nessa contratação um problema, pois imagina que também não irá dar bem com o seu novo estagiário. Mas Ben, encontra um sentido naquele trabalho. Ele consegue ultrapassar um problema da velhice ao se sentir útil novamente. 

Não vou falar muito sobre o filme, pois não quero dar spoilers. E vale falar que achei o filme bem legal, apesar de ter visto alguns problemas ao final e algumas questões para mim não foram solucionadas de um jeito muito interessante, ou até mesmo não foram solucionadas. Se você quiser conversar comigo sobre, estou aqui. 

Já Viver duas vezes nos apresenta um outro olhar sobre a velhice. Emílio era professor universitário de matemática. Uma das suas paixões é fazer Sudoku ou quadros mágicos, como ele prefere chamar. E um dia algo inédito ocorre: ele não consegue resolver o Sudoku. Emílio procura um médico e percebe que está sofrendo de Alzheimer. E então, antes que o esquecimento tome conta por completo, ele vai em busca do amor da sua vida para encontrar uma resposta. 

Em Viver duas vezes a velhice demonstra uma outra fase. Aqui a luta não é contra o preenchimento do tempo, contra se encaixar em uma sociedade que parece ser feita para os jovens. Onde quem é velho precisa se encaixar em uma nova realidade. Em Viver duas vezes quem precisa se encaixar somos nós. Precisamos lidar com uma realidade que fere, que nos faz olhar para o futuro e ter medo. 

Eu não tenho um propósito claro com esse texto. Não existe uma conclusão. Mas uma pergunta: o que temos feito com os nossos velhos? Ok que apresentei a realidade do Estagiário como algo bonito, alguém que vai se encaixar, se ajustar. Mas ainda assim, existe algo de cruel nessa realidade que é o porquê de não darmos atenção e ouvidos a eles. E os dois filmes ainda nos leva a questionar sobre o momento em que estamos vivendo, quando uma fala tem machucado muito que é “o covid-19 mata apenas idosos”. Como se a vida dessas pessoas não tivesse qualquer significado. Como se eles não tivessem mais motivos para viver, como se eles não quisessem viver. 

Tanto em o Estagiário como em Viver duas vezes vemos duas realidades de pessoas que chegaram à terceira idade com propósitos em sua vida, ou na tentativa de buscar um propósito. E esses propósitos não interessam a nós para justificar a morte dessas pessoas. O que nos interessa é que devemos lutar pela a vida dos nossos idosos. E está na hora de mudarmos essa visão de “apenas idosos morrem”, porque no final das contas toda vida tem um valor não importa a idade. 

Para além disso, os filmes nos leva a refletir sobre o valor que damos à história dessas pessoas. Nos faz questionar, porque nas sociedades orientais eles valorizam tanto a vida dos anciões e aqui, fazemos o contrário. 

Enfim, os dois filmes nos apresentam muitas coisas para pensar, e acredito que vale a pena investir um pouco de tempo para assisti-los. E o legal é que os dois estão disponíveis na Netflix. Então, pega a pipoca e se joga nos filmes.

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